Para alguns, pode parecer que é só comprar um telescópio e mirar para
o céu, mas se tornar um astrônomo amador não é nada fácil - e dois anos
separam o início da atividade do primeiro telescópio. "Existe uma
grande diferença entre o que a gente chama de entusiasta por astronomia e
astrônomo amador" diz o engenheiro químico Tasso Augusto Napoleão, um
dos fundadores da Rede de Astronomia Observacional (REA) e tido pelos
próprios profissionais da ciência como um dos amadores mais ativos e
competentes do ramo da astronomia. "O fato de o camarada comprar um
telescópio não o qualifica como amador de jeito nenhum. Esse é o
entusiasta. E não tem nada de errado em ser entusiasta, pois todo mundo
começa assim", explica Napoleão.
A aquisição de um telescópio é, na realidade, o primeiro erro de quem
quer ingressar no mundo da astronomia amadora. "Comprar telescópio é
justamente coisa de quem não é do ramo. Essa é a pior coisa que você
pode fazer. Quase sempre você vai ter um equipamento inadequado para
aquilo que você queria, que não vai funcionar. Vai ficar desmotivado e
acabar abandonando o interesse pela astronomia", alerta o engenheiro,
que aconselha inicialmente que a pessoa observe o céu a olho nu e
aprenda a montar um mapa para reconhecer as constelações.
Até o ato de olhar para cima e analisar o céu tem lá suas
complicações. A iluminação das grandes cidades, quando feita de modo não
adequado, faz com que as luminárias joguem parte da energia consumida
para o céu. "Em média, 30 ou 35% é perdido, dependendo do tipo de
luminária empregada. O que quer dizer também que nós todos pagamos 35% a
mais na conta de luz pública em função disso, e esse é um problema
sério que afeta tanto a astronomia profissional quanto a amadora", diz
Tasso Napoleão.
Ele cita o remanejamento do observatório da USP como consequência deste
problema. "Para você ter uma ideia, o observatório da USP que fica na
fronteira da cidade de Valinhos e Vinhedo teve que desmontar o maior
telescópio que existia lá e levá-lo para Brasópolis, onde fica o maior
observatório brasileiro. E por quê? Porque as cidades de Valinhos e
Vinhedo cresceram em volta do observatório e a iluminação é tanta que
não dá mais para fazer pesquisa lá", diz. Em cidades grandes, como São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a observação fica limitada a
astros muito brilhantes, como a lua e os planetas. Por isso, para fazer
um bom estudo das estrelas, é preciso sair do perímetro urbano e
analisar o céu com atenção. Não bastam alguns minutos. É necessário
passar pelo menos duas horas observando as mudanças.
Depois de passar alguns meses preparando mapas do céu e reconhecendo
constelações, chega a hora de comprar o seu primeiro equipamento: um
binóculo. "O binóculo, para a astronomia, é o melhor maneira para você
começar, porque é um instrumento com campo de visão muito maior, o que é
favorável para o iniciante. É algo que o astrônomo amador vai usar a
vida inteira, e é um investimento muito menor do que um telescópio", diz
o integrante da REA.
Para fazer o melhor uso do seu binóculo e dar o próximo passo no ramo
da astronomia amadora, é preciso procurar os clubes e associações da
sua cidade - ou região. A Rede Brasileira de Astronomia RBA contabiliza
160 associações registradas em chamados "nós locais".
"É um numero comparável ao de clubes amadores da França, Inglaterra e
Alemanha, que são países que, embora tenham população menor, são todos
de primeiro mundo. O Brasil não deixa nada a desejar", diz Napoleão.
Engana-se quem pensa que estas associações são pequenos clubes de
aficionados. Somente o Clube de Astronomia de São Paulo tem mais de 1
mil associados e possui uma grade de cursos em parceria com a USP. São
seis semestres de formação gratuita para astrônomos amadores, com 40
horas/aula em cada módulo. Outros clubes do Brasil têm programações
semelhantes, com observações públicas.
Os astrônomos amadores recomendam experiência de, no mínimo, 2 anos
de observações antes da compra do primeiro telescópio. "Todo astrônomo
amador experiente vai te dar esta mesma recomendação. O camarada que
compra um telescópio e nunca usou, vai ter dificuldade de localizar
objetos, a não ser que seja a lua, evidentemente", explica o engenheiro.
Isso porque o telescópio é um instrumento de campo de visão muito
pequeno, e os anúncios para a venda dos equipamentos dão uma noção
errada da sua função. e normalmente o leigo se engana sobre a real
função do equipamento. "O telescópio não serve pra aumentar nada, é um
conceito errado. A função do telescópio é recolher mais luz do que o
olho humano. O aumento é dado por uma pecinha que a gente encaixa no
telescópio - que se chama ocular - e que tem que ser compatível com o
equipamento que você comprou", alerta o amador.
Cada instrumento em particular tem um aumento máximo permissível, e se
você trabalhar acima deste limite, a visão ficará distorcida, como se a
imagem estivesse dentro de um aquário. Isso acontece porque nós estamos
dentro da atmosfera da Terra, onde turbulências, ventos e deslocamentos
de massa de ar, principalmente na atmosfera superior, influenciam nos
resultados e não é possível obter foco. "Mas isso a gente aprende com a
experiência. Se quiser ser astrônomo amador, é preciso se dedicar,
estudar, se preparar e, acima de tudo, observar muito", conclui.
Fonte: Terra
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